26 Mar 2020
10 poetisas que tem mesmo de conhecer
A 21 de março celebra-se o Dia Mundial da Poesia e esta forma de expressão também se tece no feminino.
10 poetisas que tem mesmo de conhecer

Apesar de, na História, os nomes femininos aparecerem “em nota de rodapé”, não nos podemos esquecer de várias mulheres que elevaram a voz através dos seus poemas e foram afirmando a posição da Mulher na cultura e no mundo.

Hoje destacamos 10 poetisas, cuja obra literária nos inspira e nos faz acreditar que um mundo mais feminino será sempre um mundo mais justo e feliz.

 

1. Florbela Espanca (1894 – 1930)

Florbela Espanca foi uma poetisa portuguesa que começou a escrever desde muito cedo. Aos oito anos escreveu o seu primeiro poema e aos 25 publicou o seu primeiro livro – “Livro de Mágoas”.

Viveu uma vida conturbada e de uma forma muito intensa. Ousou escrever sobre o mais íntimo de si e, por ser uma voz feminina, os seus versos não eram bem aceites nos exigentes e conservadores círculos literários da época, dominados por homens. Os seus poemas falam de amor, de sofrimento, de saudade e de solidão.

Foi das primeiras mulheres a estudar Direito na Faculdade de Lisboa e desafiou as convenções da época, casando-se várias vezes e usando calças sempre que lhe apetecia, indumentária exclusiva do sexo masculino.

Faleceu aos 36 anos, mas, durante a sua curta vida, foi um grande contributo para a emancipação literária da mulher.

 

2. Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 – 2004)

Sophia começou por escrever histórias infantis, que contava aos filhos, e tornou-se numa das mais conhecidas poetisas portuguesas.

Nasceu no Porto e cresceu entre a cidade Invicta e a Capital, no seio de uma família abastada bastante distante da realidade da maioria da sociedade portuguesa da época. Depois do seu casamento, passou a viver permanentemente em Lisboa.

No entanto, o privilégio não se sobrepôs à sua consciência social. Durante o Estado Novo, interveio social e politicamente contra a ditadura de Salazar, que dominava Portugal. Teceu fortes críticas ao Regime, à Igreja e à Colonização. Após a Revolução de Abril de 1974, foi deputada da Assembleia Constituinte e usou a sua poesia como voz da liberdade.

Sophia foi ainda tradutora de grandes autores como Dante, Shakespeare e Eurípedes.

Tornou-se na primeira mulher portuguesa a receber o Prémio Camões, o galardão máximo em língua portuguesa, em 1999. Nesse mesmo ano, recebeu o Prémio Pessoa e, em 2003, foi distinguida com o Prémio Rainha Sofia.

Sophia foi uma mulher que amou a natureza, o mundo, as palavras e o seu poder de transformá-lo. A sua obra poética e infantil continua a marcar gerações de leitores em Portugal e no mundo.

 

3. Natália Correia (1923 – 1993)

Natália Correia nasceu nos Açores, mas, aos 11 anos de idade, desloca-se para Lisboa.

Foi poetisa, romancista, ensaísta, jornalista, guionista, dramaturga, tradutora e editora, tendo sido sempre uma defensora acérrima dos direitos humanos, mais especificamente dos das mulheres.

Desde cedo, foi uma mulher carismática com uma vida social muitíssimo intensa e também uma mulher de paixões, casando quatro vezes ao longo dos seus setenta anos.

Assim como Sophia, foi ativista política e assumiu publicamente divergências com o Estado Novo, sendo condenada a prisão com pena suspensa em 1966, pela publicação da obra “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, e acusada de ofender o “pudor geral”, a “decência”, a “moralidade pública” e os “bons costumes” da época.

Após o 25 de abril, foi deputada da Assembleia da República e participou em vários programas de televisão como o “Mátria”, que apresentava o lado matriarcal da sociedade portuguesa.

Durante toda a sua vida, Natália marcou a diferença e prestou um grande serviço à liberdade, gerando imensa polémica através do seu caráter irreverente e audaz.

 

4. Maria Teresa Horta (1937 – 82 anos)

É uma escritora, jornalista e poetisa portuguesa nascida em Lisboa no ano de 1937. A poesia sempre lhe correu nas veias, sendo que é oriunda, pelo lado materno, de uma família da alta aristocracia portuguesa, tendo como antepassados a célebre poetisa Marquesa de Alorna.

Estreou-se com a escrita de poesia. Contudo, também se dedicou à ficção, posteriormente. Em 1972, publicou juntamente com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno (conhecidas como As Três Marias) o livro “Novas Cartas Portuguesas”.

Este foi o livro que desafiou a autoridade moral do regime nos anos 70 e, por isso, passou a ser considerado por muitos o texto revolucionário do feminismo português do século XX.

Maria Teresa foi uma militante ativa nos movimentos de emancipação feminina e abdicou da sua identidade cultural para fazer uma obra que afrontasse o domínio masculino e tocasse em temas proibidos da época, o que lhe valeu um julgamento pelo livro ser considerado “pornográfico e atentatório da moral pública”.

 

5. Matilde Campilho (1982 – 38 anos)

Matilde Campilho nasceu em Lisboa em 1982 e é uma das mais jovens poetisas portuguesas. Tirou, inicialmente, o curso de Literatura em Lisboa e depois seguiu rumo a Florença para estudar Pintura e História da Arte.

É uma das poetisas contemporâneas mais influentes da língua portuguesa e ficou muito conhecida ao publicar os seus poemas em vídeos na Internet.

Em 2010 foi viver para o Brasil, com 28 anos, onde trabalhou como jornalista e redatora, e desde então mora entre o Rio de Janeiro e Lisboa. Publicou os seus primeiros poemas, entre 2010 e 2013, nos jornais brasileiros A Folha de São Paulo e O Globo, assim como em algumas revistas online.

“Jóquei” é o seu primeiro livro e foi lançado pela editora Tinta da China, em 2014. A sua poesia é uma lufada de ar fresco no seio poético nacional pela forma doce, leve e rica com que se expressa, misturando expressões cariocas e lisboetas.

 

6. Rupi Kaur (1992 – 27 anos)

Rupi Kaur não é apenas uma sensação da internet, é também uma sensação humana e representa uma nova geração de poetas, que usa as redes sociais para se expressar e encontrar os seus públicos e audiências.

Nasceu na Índia, emigrou com os pais para o Canadá ainda em criança, e a poesia foi a forma que encontrou para conseguir lidar com a violação que sofreu ainda nova e para reclamar o seu corpo que ela sentia que lhe tinha sido roubado. Foi nas suas páginas de Instagram e de Tumblr que publicou os seus primeiros poemas e onde começou a carreira como Instapoet.

Ela é a autora do livro “Milk and Honey”, publicado em 2014, e pôs a internet obcecada pelo mesmo, tendo este sido um best-seller no The New York Times durante cerca de 80 semanas consecutivas. Mais recentemente, em 2017, lançou “The Sun and Her Flowers” e Rupi foi mesmo considerada a autora mais popular dos Estados Unidos.

Rupi escreve sobre trauma, amor, sexo, raça e género. Entre o ódio de como o mundo trata as jovens mulheres, especialmente mulheres de cor, Rupi Kaur é uma nova celebração da feminilidade contemporânea.

 

7. Amber Tamblyn (1983 – 36 anos)

Amber Tamblyn é poetisa, atriz e co-fundadora do movimento Time’s Up. Nasceu na California, nos Estados Unidos, e publicou dois livros de poesia: “Free Stallion”, em 2005, e “Bang Ditto” em 2015. O primeiro foi vencedor do prémio Borders Book Choice Award for Breakout Writing, que reconhece obras inovadoras de talentos jovens e emergentes.

Com apenas 16 anos, Amber foi vítima de assédio sexual e de perseguição por parte do conhecido ator de Hollywood James Woods.

Anos depois, Amber publicou a sua história de vida numa peça do jornal The New York Times, onde falou abertamente sobre a vergonha e o remorso sentido e a forma como receou que os seus pais e família reagiriam às notícias.

Amber teve coragem de expor a sua situação e ajudou muitas outras mulheres com a sua história e ativismo.

 

8. Wislawa Szymborska (1923 – 2012)

Wisława Szymborska foi uma poetisa, ensaísta e tradutora polaca. Autora de mais de 15 livros de poesia, também se dedicou a ilustrar e editar.

Começou a escrever desde muito nova, influenciada pela atmosfera intelectual em que vivia e, aos cinco anos, escreveu os seus primeiros poemas. No entanto, durante a sua adolescência, Wislawa viu-se obrigada a estudar de forma clandestina, numa escola subterrânea na cidade de Cracóvia, devido à ocupação da Polónia pelos nazis.

Em 1943, tornou-se funcionária ferroviária e conseguiu evitar a deportação para os campos de trabalho forçado na Alemanha. Neste período, escreveu vários contos e poemas.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a escritora matriculou-se na Universidade Jagellónica de Cracóvia no curso de Sociologia mas nunca o conseguiu terminar devido a problemas financeiros. Nesse mesmo ano, Wisława Szymborska estreou-se num jornal de Cracóvia com o seu poema “Szukam słowa” (À procura da palavra). Depois disso, muitos outros poemas começaram a aparecer em diferentes jornais e meios de comunicação locais.

Em 1966, foi galardoada com o Prémio Nobel da Literatura e, em 2011, aos 88 anos, recebeu a ordem da Águia Branca pelo Governo da Polónia.

A sua obra está traduzida em mais de 40 línguas diferentes e é descrita muitas vezes como “a perfeição da palavra”.

 

9. Adrienne Rich (1929 – 2012)

Adrienne Rich foi poeta, professora, escritora e feminista americana.

Foi uma das mais influentes escritoras do movimento feminista e tornou-se popular pelos comentários sociais mordazes e corajosos que tecia aos valores americanos dominantes, estivessem eles relacionados com a identidade, com a raça ou com a sexualidade.

Viveu uma vida triplamente marginalizada por ser mulher, lésbica e filha de pai judeu. Numa altura em que a homossexualidade era profundamente condenada, Adrienne assumiu-se publicamente e lutou ativamente contra a opressão de mulheres, lésbicas e outras minorias sociais.

Tem dezenas de obras publicadas e, segundo a sua editora desde os anos 60, terá vendido 800 mil cópias de livros de poesia.

Ao longo dos anos, Adrienne coleccionou vários prémios, tendo recusado alguns deles como forma de protesto.

 

10.Nikki Giovanni (1943 – 76 years old)

Nikki Giovanni é uma poetisa, escritora e ativista afro-americana.

Desde a sua juventude, dedicou-se afincadamente à luta pelos direitos civis da comunidade negra e pelo Black Power Movement. Nas suas primeiras três colecções de poemas – “Black Feeling, Black Talk” (1968), “Black Judgement” (1968) e “Re: Creation (1970)” – os seus versos eram profundamente revolucionários e denunciavam a segregação racial que se vivia nos Estados Unidos.

Durante os anos 70, e devido à sua experiência como mãe solteira, Nikki dedicou-se à poesia infantil e foi co-fundadora de uma editora, a NikTom Ltd, que tinha como objetivo apoiar outras mulheres escritoras afro-americanas.

Nos anos 80, a poetisa voltou às questões políticas e escreveu vários poemas de homenagem aos heróis e heroínas afro-americanos da luta pelos direitos civis.

Ao longo do tempo, Nikki Giovanni fez várias aparições onde deu inúmeros discursos e leu publicamente a sua própria poesia. Foi nomeada para um Grammy e fez parte das 25 mulheres homenageadas por Oprah Winfrey, em 2005, no “Oprah Winfrey's Legends Ball”.