Mas, afinal, o que é que este dia representa? 

Este dia é muito mais do que uma homenagem a todas as mulheres. Representa a luta e as conquistas políticas e sociais das mulheres por direitos elementares, como o direito ao voto. Hoje, comemoramos a importância da luta pelos Direitos das Mulheres e honramos a coragem e a determinação das mulheres que mudaram o curso da história e que merecem ser relembradas.

O Dia da Mulher obriga-nos a refletir e a ter consciência de que os direitos que temos hoje foram conquistados por outras antes de nós – Mulheres (sim, com M) que não baixaram os braços, que lutaram, que abriram caminho a novas possibilidades e vidas mais justas.

O Dia Internacional da Mulher só foi proclamado oficialmente pelas Nações Unidas em 1975, e somente em 1979 foi aprovada a Convenção para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres. Estas conquistas, relativamente recentes, são a prova de que não nos podemos conformar com as injustiças e que devemos, além de comemorar este dia, debater e provocar reflexões e mudanças numa sociedade que ainda tem muito por onde evoluir.

Ainda temos um longo caminho pela frente, mas acreditamos que quando duas mulheres se juntam, coisas extraordinárias acontecem. Imaginem o que aconteceria se todas as mulheres do mundo se unissem e lutassem, juntas, pelos seus direitos…! Hoje, destacamos, com muito carinho e admiração, 12 mulheres, todas elas portuguesas, que são excelentes no que fazem, que merecem ser reconhecidas pelo seu trabalho, pelas suas lutas, por representarem verdadeiramente o que é, em 2021, o Feminismo.

Fotografia: Fotografia restaurada por João Pena Fonseca para o Museu da Guarda 

Não podíamos fazer uma lista de mulheres inspiradoras (e havia tantas mulheres que poderíamos mencionar!) sem destacar Carolina Beatriz Ângelo, uma das primeiras vozes do Feminismo em Portugal e uma mulher que tanto lutou pela emancipação das portuguesas.

Carolina fez parte do grupo de mulheres que fundou a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, esteve envolvida na fundação da Associação de Propaganda Feminista, que também dirigiu, e projetou a criação de uma escola de enfermeiras no âmbito da luta pela emancipação das mulheres.

Beatriz Ângelo foi, também, a primeira mulher a votar em Portugal. A Lei dizia que “todos os cidadãos maiores de 21 anos, chefes de família, que soubessem ler e escrever” podiam ter um papel ativo na vida política do país e, aos 33 anos, Carolina era viúva e tinha uma filha a seu cargo (o que a tornava chefe de família), e era médica (o que implicava não só saber ler e escrever, mas também possuir formação superior). Invocando em tribunal o direito de ser considerada “chefe de família”, lutou pelo sufrágio feminino nas eleições constituintes e a justiça falou mais alto (mesmo que, após as eleições de 1910, a Lei tenha acrescentado que apenas os “chefes de família do sexo masculino” poderiam votar).

Com um hospital e uma escola com o seu nome, Carolina marcou positivamente a História Portuguesa e, em 2020, emprestou-o também à Josefinas e inspirou-nos a criar duas malas que representam o empoderamento feminino, a sua coragem e a sua força.

Fotografia: @catarinafurtadooficial

Viajamos até aos dias de hoje e celebramos o trabalho e a missão da nossa Catarina Furtado, que luta pela Igualdade de Género, pela Educação e pela Justiça. Ficamos a conhecê-la por ser uma das caras da televisão portuguesa, mas a verdade é que o seu trabalho e dedicação vão muito além desse mundo repleto de luzes e câmaras.

A Catarina usa a sua voz e os seus canais para falar nas realidades feias que são muitas vezes escondidas e dedica o seu tempo a ajudar quem mais precisa. Autora de contos infantis e letras de canções, é inegável a sua preocupação com as gerações futuras e as famílias que lutam pela sobrevivência. A sua associação, Corações com Coroa, é uma associação sem fins lucrativos, que pretende promover uma cultura de solidariedade e inclusão junto de pessoas em situações de vulnerabilidade, risco e pobreza.

Luta diariamente pelo que acredita e é através do programa que apresenta, Príncipes do Nada, que nos alerta para a realidade dramática vivida em muitos países subdesenvolvidos e outros locais onde as desigualdades são ainda drásticas. Embaixadora de Boa Vontade do UNFPA e uma grande inspiração para a Josefinas, a Catarina é uma Power Woman dos nossos dias e tem feito um grande (gigante!) trabalho na luta pelos Direitos Humanos.

Fotografia: @patriciamamona

Sentimos que as mulheres desportistas ainda têm pouco palco nos canais de comunicação e, por isso, não só por esta mulher ser um exemplo para nós, mas também em homenagem a todas as atletas que treinam diariamente para atingirem resultados e mostrarem que o género não é critério determinante, destacamos hoje Patrícia Mamona. Uma atleta que tem levado o nome de Portugal além-fronteiras e que nos tem mostrado que, apesar das desigualdades que ainda existem no desporto e entre desportistas, a consistência, o trabalho e a dedicação fazem toda a diferença.

Sabiam que esta portuguesa de garra ganhou a medalha de ouro e estabeleceu um novo recorde nacional no triplo salto feminino no Campeonato Europeu de Atletismo? Decorreu em 2016, em Amesterdão, e Patrícia Mamona saltou 14,58 metros! No mesmo ano, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, conseguiu a melhor classificação de sempre no triplo salto feminino português, com um salto de 14,65 metros.

Não dá para não admirar esta Power Woman, que com uma carreira tão rigorosa e exigente, conseguiu uma bolsa de estudos para estudar Medicina aos 17 anos (tendo, eventualmente, que escolher entre a Medicina e o Atletismo) e ainda arranja tempo para passar aos mais novos a importância do esforço e do sacrifício. Como não destacar Patrícia Mamona num dia em que celebramos o que foi alcançado pelas mulheres? Impossível!

Fotografia: www.ulpinfomedia.wordpress.com/

Branca Edmée Marques foi uma cientista portuguesa que teve um papel determinante nos estudos sobre radioatividade, radioquímica e química nuclear.

Discípula de Marie Curie (mais uma grande mulher que mostrou ao mundo do que é capaz!), obteve o seu doutoramento em Paris e, no ano seguinte, depois de lhe ter sido garantida a equivalência do seu título ao grau de “Doutorada em Ciências Físico-Químicas” em Portugal, fundou o primeiro Laboratório de Radioquímica do país, antecessor do Centro de Estudos de Radioquímica da Comissão de Estudos de Energia Nuclear, do qual foi diretora.

Aos 65 anos - 12 anos depois de se ter habilitado a essa posição - tornou-se (finalmente!) a primeira mulher a obter o grau de professora catedrática de química numa faculdade de ciências em Portugal. Em Lisboa, desde 2009, existe na cidade universitária uma rua com o seu nome, para que todos os estudantes relembrem a sua importância na compreensão das áreas às quais se dedicou. Uma verdadeira inspiração para todas as mulheres da ciência (e não só!).

Fotografia: @ohsevendays

No mundo das artes são várias as mulheres que se têm destacado e que têm vindo a mostrar o seu trabalho de uma forma transparente, sem olharem a preconceitos ou estigmas. 

Margarida Fleming é uma das Mulheres que hoje destacamos e a mente por detrás das obras que nos cativam e nos mostram que todas as mulheres são diferentes e especiais – cada um dos rostos que Margarida cria nos seus quadros tem, na verdade, uma essência distinta que o torna único e extraordinário. Não são só rostos, são mulheres, histórias, vidas.

A prova da sua dedicação é, precisamente, a sua arte, que desenvolveu sozinha, aprendendo técnicas, explorando traços e testando combinações de cores. O resultado está à vista e é simplesmente maravilhoso. Fascinante, até. Mensagens poderosas são lidas nos olhos dos rostos que pinta e as interpretações, que podem ser tantas quanto o número de pessoas que as tentam decifrar, são um excelente ponto de partida para uma discussão sobre o que é, então, ser mulher.

Fotografia: Observador

Daniela Seixas é um nome de referência no mundo do empreendedorismo e é, também, uma inspiração para todas nós pela sua perseverança, pela vontade de concretizar sonhos, pela ajuda aos profissionais de saúde e pelo seu percurso de sucesso.

Em 2015, Daniela decidiu que estava na altura de trocar os corredores do hospital por uma paixão antiga e que se desenvolveu entre brincadeiras no computador do pai - a tecnologia. Deixou a especialidade em neurorradiologia para se dedicar a um novo projeto: uma aplicação móvel para ajudar os profissionais de saúde que não leem emails, ajudando a melhorar a comunicação entre hospitais, seguradoras e farmacêuticas.

O caminho não foi linear – apesar de ter escolhido uma especialidade que recorre mais vezes à tecnologia, Daniela foi médica, fez um doutoramento em Neurociências e tornou-se professora na Faculdade de Medicina do Porto. No entanto, há paixões que não podem ficar escondidas e a fundação da Tonic App fê-la trabalhar naquilo que realmente a apaixona.

Uma Power Woman que merece destaque por ajudar a salvar vidas ao criar um projeto que tem um impacto direto na qualidade dos cuidados e serviços prestados aos doentes.

Fotografia: VOGUE Portugal

Não é possível falar em Direitos Humanos ou Direitos das Mulheres sem falar nas minorias, nas desigualdades entre etnias, países, privilégios ou sociedades. Da mesma forma, é impossível falar em Feministas Portuguesas sem mencionar Maria Gil.

Cigana, atriz e ativista, tem tido um papel fundamental na luta pela igualdade. Através dos seus papéis e da sua voz ativa, Maria relembra-nos que, ainda que todas façamos parte do grupo de mulheres, dentro dele existem ainda várias comunidades em que nem todas têm acesso aos mesmos direitos, privilégios, respeito ou segurança. Em 2017, levou para uma manifestação um cartaz com uma frase que cativou a nossa atenção - “As mulheres ciganas existem e resistem!” – que escreveu porque, quando olhou a seu redor, percebeu que não havia outras mulheres ciganas envolvidas de forma ativa neste movimento.

O machismo cigano tem uma visibilidade diferente, pois é muito menos abordado pelas vozes que lutam pela Igualdade de Género, e ser feminista é, também, reconhecer que não começamos todos no mesmo patamar, que os privilégios acentuam-se nesta luta, ainda que o objetivo máximo passe pela existência de uma igualdade indiscutível, onde todas as pessoas, homens ou mulheres, vivem sem receios, discriminação, racismo ou insegurança. Ainda há muito caminho para percorrer e ouvir vozes como a da Maria Gil é sempre um passo em frente para ajustarmos mentalidades e sermos, todos, mais empáticos.

Fotografia: www.capicua.com

A música tem um papel fundamental na divulgação e aceitação de ideologias, e Ana Fernandes, conhecida por Capicua, vincou o seu nome no panorama português graças ao seu trabalho.

Mulher, rapper, formada em Sociologia e feminista. Nenhuma mulher tem uma só faceta e Capicua mostra-o com excelência. A cantora inspira-se em poetas portugueses e usa a sua voz para chamar a atenção para a importância da Igualdade de Género, do Feminismo, da Justiça. Considera-se uma “rapper militante” e é conhecida pela sua escrita, emotiva e poderosa – Capicua é, realmente, uma das vozes dos nossos dias, e tem-se distinguido pela cultivação da atitude feminista num mundo associado aos homens. Como a Josefinas, Capicua acredita que é moldando as mentalidades mais jovens que se pode fazer realmente a diferença e também por isso criou um projeto de música infantil que dá o tom para o despertar das mentes mais jovens.

Não há dúvida que Capicua tem contribuído (muito e bem!) para a destruição dos preconceitos associados ao Rap e para o empoderamento feminino, incentivando, através das suas canções e ações, outras mulheres a construírem os seus percursos e a definirem os seus próprios caminhos. No Dia da Mulher, destacamos mais uma Mulher que vê na sua vida uma forma de lutar pelas vidas e pela felicidade de outras mulheres, independentemente do nome, da idade, da cor da pele, da religião ou da nacionalidade. Parabéns, Ana!

Fotografia: Astolfi Studio

Se gostam da arte que encontramos nas montras das ruas que fazem parte do nosso quotidiano ou das viagens que fazemos, vão gostar de conhecer (se é que ainda não conhecem) Joana Astolfi, a artista-arquiteta, lisboeta, que corre o mundo e que cria verdadeiras obras de arte para as montras das marcas de luxo. Joana carrega o nome de Portugal e dá-nos mais um motivo para nos orgulharmos do talento que por cá existe.

Astolfi pode não soar português – e é, na verdade, um nome de família italiano, que faz questão de celebrar pela ligação à avó paterna – mas Joana não podia enganar. Portuguesa, brasileira, italiana… porque não juntar tudo à paixão pela arte e pela arquitetura para colocar as mãos na massa? É esta multiculturalidade, esta liberdade e, claro, a visão única da artista que nos faz destacá-la hoje. Uma mulher que criou, voltou a criar e nunca desistiu. Que usou o seu privilégio para aprender mais, fazer melhor e chegar ao patamar em que a encontramos hoje – e que tanto sentido faz! – com um estúdio próprio, um nome que reconhecemos de imediato quando aparece nas notícias e uma criatividade que só cresce.

Joana Astolfi é, sem margem para dúvidas, uma inspiração no que diz respeito à criação de conceitos, à construção de instalações soberbas e à genialidade dos objetos com desenhos mais improváveis. Uma Mulher que não tem receio de mostrar quem é ou de explorar ideias que talvez possam parecer loucas aos olhos dos outros. Uma Power Woman.

Fotografia: www.delas.pt

Escritora e ativista, Natália Correia teve um papel político muito importante no que diz respeito à luta pelos Direitos Humanos e pelos Direitos das Mulheres. O seu nome não é, infelizmente e com muita pena nossa, suficientemente referido a nível internacional, mas o seu papel enquanto feminista é grande motivo de orgulho em Portugal. Incluí-la nesta lista de 12 mulheres que estamos a partilhar neste dia com tanto significado é a nossa forma de a homenagear e de fazer com que, de uma forma ou de outra, o seu nome viaje por vários países e cidades.

Autora do Hino dos Açores e cofundadora da Frente Nacional para a Defesa da Cultura, Natália destacou-se pela sua obra, entre géneros variados - desde a poesia ao romance, entre o teatro e o ensaio – e gostava de ser chamada de poetisa pelo significado feminista que atribuía à palavra. Essa sua determinação foi o mote para se afastar do politicamente correto, mas nem sempre a sua visão e ideologia foram validadas. Natália foi condenada a três anos de prisão (com pena suspensa, pela publicação de uma obra considerada ofensiva para os costumes) e foi processada por ter tido a responsabilidade editorial das “Novas Cartas Portuguesas” (o livro das Três Marias).

Natália Correia faleceu em 1993, deixando um grande vazio na literatura portuguesa e um legado que recordaremos sempre – até porque Natália foi, no meio de tantas conquistas, uma das responsáveis pelo aparecimento do conceito de café-concerto em Portugal.

Fotografia: www.sarabarrosleitao.pt

Sara Barros Leitão é muito mais do que atriz, dramaturga ou encenadora. Assume-se como ativista e esta palavra assenta-lhe na perfeição, uma vez que luta pela existência e qualidade da cultura, pelos direitos da classe artística e pelos Direitos das Mulheres, utilizando a sua voz para promover a mudança de mentalidades e alertar para muitos flagelos e injustiças com que ainda hoje nos deparamos.

Sara tem feito um trabalho extraordinário no reforço da ideologia feminista em Portugal e criou um clube do livro feminista. Heróides, que partilhamos com a crença de que todas as iniciativas que promovam a desconstrução de ideologias patriarcais são bem-vindas, é um projeto que começou em janeiro deste ano e que terá, ao todo, 12 sessões de discussão online com convidados, espaço para reflexão, debate, partilha de pensamentos e interpretação em Língua Gestual Portuguesa.

Ler um livro, fazer um cartaz ou escrever um texto pode ser um pequeno passo aos olhos de muitos, mas é, na verdade, o ponto de partida para um mundo melhor. A Sara prova-o todos os dias, em cada atitude ou partilha.

Fotografia: @miss_ana_sofia

Sabemos que há muitos nomes que não constam nesta lista e que este número reduzido não inclui nem 1/100 das mulheres que merecem destaque, mas a presença da nossa Ana Sofia Martins não poderia, em nenhuma circunstância, ser colocada em causa.

Um exemplo quando falamos em respeito, amizade entre mulheres ou entreajuda (porque, afinal, o sucesso de uma mulher não impede o de outra). A Sofia é mais do que uma cara bonita ou o orgulho que tem no seu cabelo (e que nós adoramos!) Modelo, apresentadora, atriz, ativista e feminista lutou muito para alcançar tudo o que vive hoje e não se esquece das suas origens ou da sua história. Tal como a Josefinas, apoia o projeto Wink Kriola, que visa a criação e oferta de pensos reutilizáveis a meninas e mulheres desfavorecidas, para que não deixem de trabalhar ou ir à escola por não poderem adquiri-los.

Ana Sofia luta, diariamente, para conseguir apoios para quem mais precisa e não é raro vê-la a utilizar as redes sociais para divulgar campanhas de cariz solidário. Entre outras iniciativas, a sua ligação à Casa de Acolhimento Mão Amiga mostra tudo o que Ana Sofia é: amiga, humilde, lutadora e dedicada. Uma verdadeira Power Woman, com orgulho em ser quem é, que nos faz despedir deste dia tão significativo com chave de ouro.

Lutemos, agora, para que, no próximo ano, haja menos desigualdades a assinalar.

Ao longo da história muito foi conquistado, mas ainda há muito mais para conquistar, até porque nada pode ser dado como garantido. As mulheres merecem mais visibilidade, mais valorização e menos preconceito. Hoje é o Dia da Mulher, mas esta luta não acaba aqui.

Feliz Dia Internacional da Mulher para todas as pessoas que se identificam como tal e a todos os homens que estão connosco na luta pela Igualdade de Género!