Christina Dalcher é doutorada em linguística e não nos deixa esquecer disto ao longo de “Vox”: usa a língua e comunica de forma brilhante para nos conduzir até ao universo distópico onde as mulheres perderam o seu estatuto humano e são subjugadas e brutalmente limitadas. Na verdade, “Vox” traduz-se literalmente do latim para “voz” – a premissa está na capa.

Na América representada em “Vox”, todos os indivíduos do sexo feminino são obrigados a usar uma espécie de pulseira eletrónica que contabiliza as vezes em que falam, limitando todas as meninas e mulheres a 100 palavras por dia. O resultado para quem não respeita este limite? Uma descarga elétrica que aumenta de potência a cada número acima dos 3 dígitos.

Se já leram alguns clássicos de literatura, sabem onde jaz a beleza da literatura distópica: está precisamente no poder que têm estas obras – e que mais nenhum outro género literário tem! – para nos fazer pensar “E se...?”.

“Vox” podia estar bem mais afastado da realidade atual, mas infelizmente não é o caso: há políticos corruptos no poder, há ideias radicais a circular livre e fluidamente e há um culto poderoso a manipular a opinião pública e a pregar a opressão. Mais irónico ainda é termos lido este livro num ano de pandemia – sim, porque em “Vox” também há uma doença perigosa a espreitar... Estão a ver onde queremos chegar? “E se...”?

Não queremos contar todo o enredo, por isso, deixamos a sugestão de leitura e perguntamos: o que fariam se tivessem um limite diário de palavras? Conseguem imaginar o impacto negativo que este retrocesso causaria nas mulheres? Nas mulheres do futuro?

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