Afirmar que as mulheres têm de ser ‘mais fortes’ para acabar com a violência doméstica é perpetuar a ideia de que atos de violência contra mulheres é, somente, um problema das mulheres quando é, na verdade, um problema de todos.
Ser forte ou não ser forte, ser firme ou não ser firme em nada se relaciona com o facto de nos encontrarmos numa relação abusiva. Qualquer mulher pode ser vítima de violência doméstica; não importa a idade, cor, estatuto social ou profissão.
É muito frequente ouvir-se ‘por que não se foi embora?’. Talvez até nós próprias já o perguntámos. Mas são essas questões que perpetuam a cultura de culpabilização das vítimas. Ainda que sem intenção de tal, com essas questões estamos a culpar a vítima por algo que ela não quis nem previu que lhe acontecesse. O que poderá não saber é que é extremamente perigoso sair de uma relação abusiva: 70% das mortes por violência doméstica acontecem após a vítima abandonar o abusador.
E isto leva-nos a outro ponto: o enraizamento desta cultura transforma as vítimas em pessoas que, por não terem abandonado o abusador, merecem ser maltratadas e, assim, faz com que se sintam inibidas de falar, de apresentar queixa; pois receiam ser julgadas. A violência contra as mulheres é um problema muito maior do que as estatísticas mostram: quase uma em cada duas mulheres que sofreu violência nunca disse a ninguém.
Respostas mais fortes das instituições que nos protegem também são necessárias para acabar com a cultura do silêncio e da culpabilização das vítimas. As mulheres têm de sentir que as suas queixas e acusações são levadas a sério e que será feita justiça de modo a que possam recuperar as suas vidas.